terça-feira, 3 de maio de 2011

Ausência


Esta manhã chuvosa... esta falta de sono... este inquietamento na cama. Acho meio tolo procurar uma causa para isso ou paliativos para continuar dormindo. Preciso revelar quem gosta desse barulho de chuva no telhado quando prolongávamos um pouco mais a noite que findava? Este cheiro de terra molhada há tempos castigada pelo sol? Essa brisa fria vinda do mar batendo nas janelas entreabertas movimentando as cortinas e deixando entrar um pouco de claridade? O canto do bem-te-vi, meu vizinho brincando na chuva? Não. Não será necessário. Devo chamar de insônia a minha falta de sono? Ou o termo certo seria saudade? A ausência da sua presença nesses momentos tantas vezes vividos. O vazio ao meu lado privando-me do cheiro dos seus cabelos, da busca das mãos procurando a presença do outro ainda de olhos fechados, para não despertar e não quebrar o encanto do momento. Dos suspiros, quase gemidos por estar na hora certa, no lugar certo com a pessoa certa. Do chegado mais perto buscando um pouco mais de calor, de contato. Do esquecimento do mundo lá de fora e das muitas pessoas que nele vivem. O trabalho que teríamos que fazer, os problemas que teríamos de enfrentar, os contatos que teríamos que manter, as providências que teríamos que tomar... a vida que teria que ser retomada, mas a chuva, a manhã, a  companhia e a vontade disso tudo não deixavam... A felicidade não deixava. Precisaria de um motivo mais importante para os atrasos, para o decorrer de um dia tranquilo e feliz? E quando, finalmente a preguiça ia embora, a vontade do aconchego se quebrava, nossos olhares se cruzavam e não precisávamos de palavras. Ele nos dizia tudo.
            Como não lembrar tudo isso em situações tão parecidas? Como esquecer situações vividas tão imensamente felizes? Como esquecer a sua ausência se a sua presença ainda está tão viva em mim? Como conseguir dormir com tantas lembranças? Como continuar vivendo sem esse amor e sem essa saudade? Impossível. Eles já se tornaram crônicos. Agora, é alimentar a esperança de transformar esse passado em presente novamente. E, como num conto de fadas: Sermos felizes para sempre.


Texto: Marta Adalgisa Nuvens

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