quarta-feira, 2 de março de 2011

Incoerência


De repente, a certeza ficou duvida. O autocontrole se vestiu de medo. O caminho trilhado há tanto tempo agora é uma vereda na qual posso me perder porque não sei mais a direção.
As palavras do sábio ouvidas através dos ecos da mente inquietam a minha quietude e me transportam a uma vida que não é minha.
De repente, a pessoa que sempre julguei ser nunca existiu. Fui uma personagem imaginada pela minha mente inteligente e criativa.
A realidade apareceu com toda força dizendo-me que somos aquilo que somos e não aquilo que pensamos ser. E eu me tinha pensado diferente do que sou. Aquela velha frase de alguém que se viu como me vejo hoje é coerente: somos aquilo que os outros acham  de nós.
Somos o achismo dos outros, somos o julgamento dos outros, somos a nossa fantasia de ser e nunca somos como realmente somos.
Gostamos demais de nós mesmos para não maquiarmos os nossos defeitos e para acreditar e propagar que somos melhores do que somos.
Guiada pelo som da consciência, dou uma olhada no passado e tenho agora outra visão de mim. Amores fracassados, amigos resumidos, família dispersada pela ação do tempo e da rotina.
Passei a vida entretida na sobrevivência do corpo e da alma e não na ascensão deles.
Tornei-me uma pessoa cheia de defeitos que via apenas qualidades, achando-me isso e aquilo. Vejo agora o que os outros viram em mim e se afastaram.
E novas pessoas que me conhecem acham-me aquilo que julgam de mim apenas pela aparência e igualmente se afastam.
O que eu pensei de mim não era verdade. A minha autoestima bloqueou a minha evolução como pessoa.
Agora, quem sabe, sabendo mais sobre mim, ou melhor, me vendo como realmente sou ainda haja tempo de recomeçar. Se é que realmente quero ser como os outros me julgam ser e não como me julgo a mim mesma.
Continuarei perdida nesse abismo imaginário acostumada a mim sendo para os outros o conceito que eles têm de mim.

Texto: Marta Adalgisa Nuvens

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