sábado, 18 de setembro de 2010

A Galinha Mazé


            Mazé era uma galinha muito conhecida no galinheiro. Ela era a professora de quase todos os pintinhos do lugar. Todos a achavam uma galinha inteligente e sábia. Ela sabia, como ninguém, discutir com quem quer que fosse para fazer valer os seus direitos e os direitos da comunidade. Vários privilégios ela já havia conquistado para o galinheiro. Que, por esta razão, era conhecido como o mais organizado e democrático da região.
            Ente outras coisas, a Galinha Mazé tinha conseguido: a) Milho de boa qualidade ao nascer do dia e, ao longo dele, ração balanceada. Já que, a todos no galinheiro, era proibido sair para ciscar na grama verdinha do jardim onde, com certeza, havia mil minhocas gordinhas e suculentas. b) Água filtrada em bebedouros limpinhos e não mais em vasilhas reduto de lodo e sujeira. c) O direito de chocar seus próprios ovos e não mais aqueles que lhes impunham por razões que só os humanos conheciam.
            Mas ainda faltava muito a ser conquistado. O representante do galinheiro nada, ou quase nada fazia pela população. Ele era um galo jovem e bonito. Passava o tempo conquistando franguinhas e viajando para o interior, não para saber das necessidades daquele bando, mas para se fazer mais conhecido e, com isso, ganhar mais presentes, mais status e mais poder. Por este motivo, a Galinha Mazé foi convencida pelos amigos a candidatar-se a representante do galinheiro para que pudesse reivindicar mais facilmente tudo aquilo que ainda faltava.
            Com pouco tempo, lá estava a Galinha Mazé nos palanques falando à comunidade galinácea da importância que tem as escolas, pois os pintinhos aprenderiam, quem sabe, a voar mais alto do que a sua própria raça, a ciscar e conseguir alimento com seus próprios esforços e não mais esperar todos os dias por aquela cota de ração industrializada. Ração fabricada com o objetivo de cada vez mais rápido tornarem-se adultos e irem para o abate.
            Falando da importância que teria criar uma lei que salvasse da panela as galinhas que, por opção de não gostassem de botar ovos, por motivo de saúde ou idade, por vaidade ou por não quisessem a maternidade.
            Falando de como é importante um posto de saúde com remédios, com vacinas, inclusive as mais modernas como as da gripe aviária e falando de como seria de igual importância uma liderança com quem as galinhas pudessem contar, já que galinhas pensam diferente dos galos e, portanto, têm interesses diferentes também.
            A campanha eleitoral foi acirrada. O Galo representante tinha poucos argumentos, mas tinha o poder nas asas. Seus comícios eram muito mais animados com distribuição de milho e minhocas. Além do mais, era representante nomeado e se fazia valer deste argumento. Valia-se também em convencer as lideranças de que o dono do galinheiro sabia o que era melhor para a comunidade, que as galinhas não precisavam ter preocupações com melhorias, pois todos, mais dias, menos dias acabariam na panela de alguém. E que o importante era cada vez mais produzir e engrandecer o local, pois com isso viria o retorno.
            A Galinha Mazé atraia também muitos eleitores, principalmente as galinhas, para o seu comício. Ela tinha boas idéias e boas propostas de governo e o galinheiro todo sabia que eram idéias e propostas que iriam modificar a qualidade de vida da comunidade.
            No dia da eleição, todos eufóricos levantaram ainda mais cedo do que de costume. Haveria, com certeza, boca de urna; uma prática proibida, mas sempre usada nessas ocasiões. Os militantes da Galinha Mazé lembravam aos eleitores as mudanças maravilhosas que ela, galinha honesta, haveria de conseguir para todos. Os militantes do Galo representante prometiam uma vida boa com sombra, água fresca e boa ração. Nada de preocupação com melhorias, pois não era assunto da massa galinácea. E assim, entre uma ocorrência e outra, o dia foi passando.
            Chegou afinal a tarde e com ela, a contagem dos votos. A galinha mazé, para tristeza do seu eleitorado, perdeu por 54 votos. Uns dizem que houve corrupção, fraude e promessas enganosas. Mas a Galinha Mazé, embora tenha reclamado judicialmente, sabia que, a julgar por outras eleições, de outros galinheiros, ganha quase sempre quem detém o poder. Ou por morosidade e burocracia, ou por falta de provas. E assim, a Galinha Mazé esperaria mais quatro anos e tentaria tudo novamente. Afinal, uma galinha guerreira não desiste nunca.

Texto: Marta Adalgisa Nuvens

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