domingo, 19 de setembro de 2010

As perdas

                         


O melhor da vida é viver. Viver, se expor, buscar coisas e pessoas que lhe tornem a vida mais fácil, mais gostosa, mais surpreendente. Para melhor viver nos cercamos do que é mais prazeroso. Família, amigos, amores. E isso implica nas inevitáveis perdas que poderemos sofrer ao longo da caminhada. A família se modifica pelo seu dinamismo que, naturalmente interrompe o cotidiano e refaz a história.  São várias as perdas. Os amigos mudam, se mudam, somem, ficam. Uns lhe esquecem, outros choram com você. No final perdemos mais do que ganhamos. E o amor... É a maior de todas as perdas. É angustiante, tira-nos a alegria, o pensamento pára num determinado ponto que por mais que você o incentive a andar, ele não obedece. A saudade nos enche de lágrimas, sentimo-nos tristes, frágeis, carentes... sozinhos. Vontade de ficar, de ir, de andar, de parar, de sentar... ou... ficar de pé talvez seja a melhor solução. Talvez respiremos melhor e consigamos abrandar esse aperto no peito, essa sensação de que todo o ar que se aspira não é suficiente...  É estar-se sufocando em pleno vendaval. Vontade de ligar, passar um e-mail, escrever uma carta... Um torpedo talvez aliviasse... Mas estamos tristes... vazios... abatidos. Saberíamos o que dizer? Que argumentos teríamos para explicar tudo e nos fazer entender? Existem palavras que traduzam tudo isso? Que palavras explicariam essa sensação de impotência... de... O que eu posso fazer? Voltar atrás seria possível? Não... tarde demais. Como diz o poeta, as flores não eram de plástico. Murcharam. Valeria a pena demonstrar todo esse sentimento? Não... O outro não tem culpa. Ele apenas mudou de estação, como fazemos quando queremos mudar uma música no rádio. Está noutro palco vendo ou participando de outra peça com outro diretor, outro elenco. A sua peça não daria mais bilheteria. Seria o cúmulo da ingenuidade manter o mesmo elenco para uma peça que não seria mais apresentada. Que já não teria mais público.
Ah! Uma idéia! Fingir que somos fortes, que entendemos, somos modernos, afinal de contas isso acontece. Seria até possível se soubéssemos fazer isso. Por mais que treinemos e que nos aconselhemos que esta seja uma boa opção... talvez um riso a mais estrague tudo. Um riso que nem caberia no momento... mas se se vai fingir... rir é mais fácil. Não... não é uma boa idéia. Porque, como agora, podemos desmoronar e tudo o que você ensaiou já não tem sentido ser feito. Pode-se também beber um porre. Afogar as mágoas. Alivia, mas não resolve. Pode-se chorar sozinho e se consolar a si mesmo se dizendo que não tinha outra saída. Alivia, mas não resolve. Pode-se procurar outro amor. Enganar-se de que um novo amor cura o outro. Tentar fazer o seu pensamento andar, sair daquele ponto fixo em que ele se meteu. Alivia, mas não resolve. Pode-se sair, passear, ver gente... também alivia, mas não resolve. Pode-se, ouvir música, ver futebol, fazer compras, tentar ver aquele velho filme repetido só pra não ter que prestar atenção, não ler nem ouvir nada... Alivia, mas não resolve. Pode-se telefonar pra um amigo distante, ver um parente, fazer faxina na casa... Alivia, mas não resolve. A faxina deveria ser na alma. Pode-se jogar gamão, baralho, caminhar na praia, ir pra cozinha fazer aquela receita que não daria certo mesmo que você tivesse todos os ingredientes e soubesse fazer uma boa comida... Alivia, mas não resolve.
Então... O que fazer com tanta dor, desassossego, vazio, tristeza, vontade de ficar calado, de poder pensar noutra coisa, de dormir e acordar melhor? Dizem os amantes que só o tempo. Que o tempo cura todas as feridas. Mas... sinceramente não sei. Só o tempo dirá.



Texto: Marta Adalgisa Nuvens

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